Aos nossos leitores segue a 2ª parte da entrevista com o Rodrigo Marques – Proprietário da Empresa Show com Patas e Criador do Revolucionário sistema de Adestramento de Cães: Equilíbrio dos Reforços.
1 – Na sua opinião profissional é necessário alguma característica especial para se tornar um bom adestrador de cães?
R: Em minha opinião, resumidamente falando, a principal característica é o bom senso do equilíbrio ao se treinar cães e saber dosar o amor pelos animais e a razão. Algumas pessoas parecem que tem um “dom” nato para lidar com animais, mas de um modo geral é possível aprender a treinar, basta para tanto realmente gostar de animais e buscar estudar e se aprimorar sempre. Treinar… Treinar é fundamental. Aplicar todo o conhecimento teórico na prática e colher os resultados.
2 – O que você observa de semelhança e peculiaridade nos treinamentos para residência, esportivo e/ou policial.
R: O aprendizado segue a mesma linha de raciocínio em ambas as modalidades. A base para o aprendizado é sempre a mesma, porém com objetivos bem peculiares. Cães de residência precisam em primeiro lugar, serem educados com um treinamento especifico e suficiente para serem “controlados” pelos seus proprietários. Além disso deve-se modificar comportamentos indesejados e corrigir problemas comportamentais como maus hábitos de higiene, destruição, latidos excessivos, ansiedade, agressividade e muitos outros problemas. Alguns casos são bem complexos.
Cães de esporte precisam de obediência avançada e formal, além de exercícios que muitas vezes jamais serão utilizados pelos proprietários de cães pet, porém são exercícios com grande nível de dificuldade se comparado ao treino convencional de residência. Nesse caso, o nível de exigência são exercícios que chegam o mais próximo da “perfeição”. Acredito que o esporte, mesmo que praticado sem objetivo de competir, seja um ótimo caminho para aumentar o nível técnico do profissional de adestramento, já que as modalidades esportivas com cães são extremamente exigentes do ponto de vista técnico.
Cães de policia quando estão em uma sessão de “trabalho”, treinam praticamente como um esporte, porém, que simula muito mais a realidade por sua variação de situações e exercícios. Além disso, os cães tem a possibilidade mais do que em qualquer outra modalidade de encarar a realidade operacional, situações difíceis e estressantes para cão e condutor, morder pessoas de verdade(quando necessário) e não somente equipamentos . Digo que o treinamento para cães de polícia é uma ” adaptação” do treinamento esportivo de alto nível aonde exige-se um poderosa disciplina, controle e rigor, contudo com um direcionamento diferente dos esportes. A complexidade pode variar de acordo com os objetivos e direcionamento do treinamento.
3 – Como você analisa o Adestramento de Cães no Brasil, no que tange estas três modalidades citadas acima?
R: Sou um pesquisador dessa gama de conhecimento cinófilo. Vejo que o Brasil está cada vez mais experimentado em todas essas modalidades. Existem cada vez mais provas desportivas de cães de trabalho, como agility, pastoreio, schutzhund, algumas de mondioring e de cães de policia no Brasil. Acredito apenas que estamos pecando por não ter uma prova própria de obediência focada em cães de residência, seja para cães de companhia ou cães de guarda. Mas em breve vamos apresentar o primeiro esporte brasileiro de adestramento, onde os exercícios serão de alta e real utilidade para qualquer cão de residência e seus proprietários.
4 – Do que se trata este esporte, esta prova específica?
R: Um esporte que auxilie no treinamento de cães que seja de utilidade à nossa realidade utilizando alguns critérios parecidos com esportes de outros países, mas com muitos exercícios diferentes, onde tanto cães de proteção como cães de companhia de qualquer raça e porte poderão participar (Inclusive os SRDs), com variadas categorias, de acordo com a finalidade do cão. Será algo bastante Inovador.
5 – Seu trabalho se baseia em alguma modalidade especifica de adestramento?
R: Por pesquisar e tentar praticar o adestramento em sua melhor forma, acredito utilizar um pouco de cada modalidade, Schutzhund, Agility, Knpv, Ring Belga, Ring Francês, sendo que a maior parte das técnicas que emprego provém do mondioring. Tirei dos esportes minha forma de treinar cães de residência e meu laboratório sempre foram os cães de clientes.
6 – Dentre tantas modalidades de adestramento de cães, porque você escolheu o Mondioring especificamente, como base principal para seu trabalho?
R: Em minha opinião é o esporte mais completo e que mais se assemelha a realidade e necessidades do dia a dia de um proprietário de cães, tanto na parte de obediência como na de proteção. O mondioring exige que os exercícios sejam realizados sob fortes distrações e as situações são sempre diferentes em cada campeonato. Quando se traz isso pra a realidade cotidiana observa-se claramente.
7 – Além de adestrador e trabalhar com comportamento canino, você também é um futuro Médico Veterinário. Está cursando Medicina Veterinária e em breve será estará formado. De que forma você acredita que o estudo da medicina veterinária poderá contribuir no seu trabalho profissional como treinador de cães?
R: Vou resumir em alguns tópicos para maior entendimento:
– Todas as pesquisas que fiz por conta própria ao longo desses anos, podem desde de já, mesmo em minha posição atual de estudante de MV, serem ampliadas com auxílio de pesquisas em meio acadêmico.
– Tenho teorias que desejo provar cientificamente e que talvez tenham maior credibilidade quando obtiver respaldo científico.
– Pretendo me especializar cada vez mais e seguir adiante na área comportamental e dar continuidade as aulas dentro desse segmento, já que gosto muito de ensinar pessoas a entenderem e lidarem com seus cães.
– Alguns casos de distúrbios comportamentais, são patológicos ou estão diretamente ligados ao estado clínico do cão. Vários deles só podem ser revertidos com auxilio medicamentoso e para utilizá-lo é necessário ser um profissional veterinário. A diferença é que já tenho mãos e cabeça de adestrador e agora estou trazendo o conhecimento da MV para agregar ao meu trabalho profissional como treinador de cães. Esse sempre foi meu sonho, espero poder contribuir para o bem estar animal assim como para a profissão de adestrador.
-Pretendo de alguma forma, auxiliar a formalização da profissão de adestrador no Brasil, e acredito que o estudo acadêmico e a posição de médico veterinário também irão me auxiliar em uma apresentação formal de projeto para regulamentação da profissão.
7 – Como você analisa a profissão de adestrador de cães em nosso país, no que tange ao Adestramento em Residências?
R: Eu amo essa profissão, então sou suspeito para falar! Mas sem dúvidas, é boa para mim e para os colegas que administram bem o seu negócio, que estudam, se especializam e que principalmente tratam bem aos cães, quando resolvem os problemas para os quais foram contratados, ajudando desta forma aos proprietários e aos próprios cães.
Hoje, mais do que nunca, proprietários cada vez mais pesquisam antes de entregar seus cães nas mãos de um desconhecido, então a profissão obviamente é melhor para aqueles que buscam se destacar por meio do estudo incessante e da aplicação de um bom trabalho que satisfaça àqueles que o contrataram. Estou “vendo” um mercado em grande crescimento e com muitas perspectivas. É só saber aproveitar as oportunidades.
8- Como o adestramento contribui na melhoria da relação entre os donos e seus cães?
R: O adestramento é capaz de construir comportamentos desejados, diminuir a frequência e extinguir comportamentos indesejados, facilitar a lida e a rotina entre os familiares e seus cães, além de promover o bem-estar para todos os envolvidos na relação com o cão.
Salvamos a vida dos cães com o adestramento pelo simples fato de torná-los educados, mais pacientes e colaboradores. Assim não geram problemas para seus familiares, são mais queridos e não sofrem o abandono em nenhum de seus aspectos.
O adestramento possibilita um vínculo equilibrado, sem excessos ou carências. Esse é o nosso dever como adestradores. Mesmo que sejamos contratados para resolver apenas o problema do ponto de vista dos donos, devemos também enxergar os motivos que fazem com que o cão gere problemas aos seus proprietários, saber quais são suas necessidades e supri-las. Um bom adestrador, no meu ponto de vista, não elimina comportamentos indesejados simplesmente com punições, mas com substituição do mau comportamento por outro satisfatório. Este é o conceito que usamos, os princípios do adestramento positivo. Os resultados são fantásticos.
9 – Como tem sido os cursos e seminários que você tem ministrado pelo Brasil? Como as pessoas tem recebido o sistema Equilíbrio dos Reforços?
R: Confesso que mesmo acreditando plenamente no meu sistema de adestramento, não imaginava que teria a aprovação de todos os participantes e tamanha repercussão em meio aos adestradores na internet e redes sociais. No inicio, pensava que iria ter que debater com colegas adestradores e lidar com orgulho e intolerância à novas ideias, mas aconteceu exatamente ao contrário. Renomados e experientes adestradores elogiam, se surpreendem e indicam o sistema.
Um dos participantes de meus seminários, me disse certa vez : “ aqueles que vão aos seus seminários duvidando da existência de uma nova metodologia e acreditando que talvez seja este mais um curso, mais um certificado, rapidamente serão desarmados, ao verem uma nova ordem de filosofia e mecânica de treinamento, pois observam o resultado de um novo sistema, e o melhor de tudo na prática durante o próprio seminário.”
Além do sistema passado no seminário, elogiam muito a didática empregada. São muitos elogios e sempre os aceito com muita emoção e humildade. Sempre ganho novos amigos em cada um dos meus seminários e mantenho contato constante com a maioria deles em função também da assistência que damos pós – seminário.
10 – Você acha que o adestramento no Brasil é um mercado maduro do ponto de vista de negócios?
R: Penso que o amor ao que se faz, conhecimento profundo do assunto e imagem do negócio de modo geral sejam fundamentais e que todos devem se atualizar sempre para se ter sempre um bom negócio. Conheço profissionais da área com poucos anos de profissão que são muito bem sucedidos e muitos outros com muitos anos no mercado de adestramento e que querem trocar de profissão, por estarem desacreditados.
Tudo é uma questão de ponto de Vista! Os tempos mudam e devemos mudar juntos, mudar nossos pontos de vista. A busca pelo conhecimento deve ser incessante! Tanto quanto os conhecimentos técnicos sobre o treinamento de cães, devemos buscar também conhecimentos sobre como gerir um negócio.
Em minha opinião os adestradores deveriam ser mais empreendedores, se formalizar mais, valorizarem o seu trabalho e não prestar o serviço como se fosse um “quebra galhos” como muitos ainda fazem, mas sim como uma empresa. Ainda assim acredito que o Adestramento de Cães no Brasil está no caminho certo, pois vejo que isso está acontecendo aos poucos.