Entrevista realizada pela Equipe Cursos de Adestramento de Cães.
Entrevistado: Rodrigo Didier – Profissional de Adestramento de Cães Praticante e Competidor de Schuzthund. Treinador do Grupo Ipo Rio, proprietário do canil Haus Kerberus, Condutor e Figurante graduado em IPO 3/ Cab /BH – Rodrigo Didier Ministra Cursos e Seminários de Adestramento de Cães – È Coolaborador da Equipe Cursos de Adestramento de Cães.
“Cursos de Adestramento de Cães”: Como Iniciou suas atividades com o Adestramento de Cães?
Rodrigo Didier : Sempre tive contato com cães, minha família possuía algumas casas em outras cidades aqui no estado do Rio, todas elas possuíam cães e sempre tive ótimo relacionamento com eles. Meu pai foi criador de Goldens pelo canil Vale das Videiras em Araras(RJ), acredito que seja o segundo canil registrado no pais. Possuí cães das mais diversas raças e todos tiveram uma marcante participação na minha vida e de certa forma fiquei dependente deles pelos mais diferentes motivos e isso ajudou na minha decisão em querer sempre eles na minha vida ao meu lado.
O adestramento aconteceu meio sem pretensão. Foi em um momento em que eu estava saindo do segmento profissional de design e partindo para uma empresa de equipamentos de mergulho que era sediada em um bairro barra pesada no Rio de Janeiro e eles precisavam de um cão para proteger o galpão.
Fui presenteado com uma cadela sem pedigree da raça pastor alemão. Até então não havia tido um cão realmente meu, digo participando dia a dia na minha vida. Os meus cães sempre foram animais de sítio, e é diferente… a Shadow era uma cadela com alguns probleminhas relacionados a agressão e insegurança e precisava ser treinada para proteger a firma, ela gostava muito de bolinha, e eu nem tinha noção do que significava isso.
Um amigo veterinário chamado Alan reparou isso nela, e comentou sobre um treino que acontecia na Lagoa Rodrigo de Freitas, próximo a minha casa, esse treino era dirigido pelo Flávio que trabalhava um cão chamado Falk. Fiquei impressionado na hora com o “adestramento” e o “ataque”, e ele se propôs prontamente a me ajudar pois viu algo na minha cadela. Quando iniciei o trabalho de proteção reparei que a maioria dos problemas dela se resolveram, fui muito bem assessorado pelo Flavio Versiane, tomei gosto de treinar e acabei por desistir de colocá-la no galpão, nessa hora já tinha apegado com ela e tinha muito risco dela ser envenenada, fora que era muito dependente, e acabei ficando com ela.
A partir daí comecei a frequentar o treino, aprender e conhecer outros grupos não só no Rio mas de outros estados. Nunca tive grandes projetos ou pretensões com adestramento, este passou a ser um hobbie e uma atividade que minha cadela adorava, e sei lá… era algo que eu tinha mão, ai as coisas foram acontecendo, no inicio achei o meio do adestramento de cães interessante, e fui ficando. Me joguei mais de cabeça em um período da minha vida aonde fui perdendo controle de muitas coisas, então vi no esporte uma boa maneira de redirecionar minha própria vida e ter uma atividade produtiva. De certa forma o adestramento, o Schutzhund era algo aonde eu tinha chance de me estruturar. Atualmente adestro alguns animais para clientes, treino e oriento outros esportistas, dou cursos, e acho que venho obtendo bons resultados com as pessoas que treino, mesmo sabendo que estes resultados dependem das capacidades individuais de cada um. Eu não faço milagres.
“Cursos de Adestramento de Cães” : Dentre tantas modalidades de Esporte e Adestramento de Cães, porque você escolheu o Schutzhund especificamente?
Rodrigo Didier : Não foi bem uma escolha, foi sorte, se pudesse escolher não tenho idéia de qual esporte escolheria, se fosse por vídeo seria ring ou knpv, mas ainda bem que o schutzhund ou aquilo que estávamos treinado foi a primeira coisa que eu tive contato. Não tenho duvidas que o schutzhund treinado coerentemente é a melhor escola para um profissional de adestramento ou de comportamento canino, mas exige muito tempo, dedicação, conhecimento e envolve uma cobrança pessoal que poucos tem disposição, só quem pratica e gradua sabe. Já pratiquei muitos esportes sem cães e nenhum deles exige o grau de conhecimento e desafio que o schutzhund exige.
Existem muitas diferenças entre os esportes caninos, cada jogo é diferente assim como cada objetivo, e é importantíssimo conhecer todos, alguns exigem mais treino outros mais genética, outros exigem mais do individuo, é complicado ver a essência de cada um. A minha opinião é que o schutzhund por sua rotina bem marcada procura mais características especificas para uma seleção genética e comparação de indivíduos dentro desta rotina. O ring que não conheço todos os tipos é um jogo de gato e rato, o treinador tem de se preparar para jogar dentro de um tabuleiro aonde o figurante esta ali para blefar, criar novas dificuldades e é bem divertido de ver. O knpv exige uma independência do cão e grande resistência a pressão. Nenhum deles é real mas são de tremenda importância para evolução do trabalho de proteção. Se você forma um cão ou sabe como formar um animal em alto nível no esporte, você vai ter conhecimento de sobra para manutenção, preparação, direcionamento e escolha de um cão de segurança.
“Cursos de Adestramento de Cães” : O Schuzthund pode contribuir de alguma forma com as atividades de Cães de Polícia e outras atividades operacionais com Cães?
Rodrigo Didier: O Schuzthund antes de ser um esporte, é um meio de seleção criado para melhorar as linhagens de cães de serviço, as principais linhagens dependem deste método. Outros esportes visam mais a funcionalidade individual do que a genética.
Na parte técnica, quando praticado em alto nível, com conhecimento de comportamento e genética é uma grande base para escolha do indivíduo, direcionamento funcional e seleção.
O Schuzthund eleva seus parâmetros de comparação, na minha opinião só a necessidade vai te dar as perguntas e respostas, e tirar você da prateleira do achismo, que há muito tanto mais atrapalha do que ajuda na criação.
“Cursos de Adestramento de Cães” : O que exatamente significa CÃES DE TRABALHO?
Rodrigo Didier : Cães funcionais ou cães de trabalho vivem em um mundo pouco humanizado e muito instintivo, eles são cobrados em seus instintos e capacidades. São cães de verdade, bem diferentes de bibelôs pets descontrolados cheios de frustrações e conflitos que constantemente vemos por ai.
Só quem tem um cão de trabalho sabe o quanto é importante essa simbiose. Fica muito difícil explicar para alguém sem o conhecimento do assunto o quanto é importante a utilização das emoções e satisfações instintivas que o cão tem com a correta canalização dos seus instintos. E como isso realiza o animal como um todo.
Um cão de trabalho é uma “ferramenta” que possui instintos que podem ser direcionados e selecionados para funções especificas, e o maior retorno que você pode dar a ele, é permitir que ele utilize tais instintos.
“Cursos de Adestramento de Cães” : Existe uma Diferença entre Cães de Schutzhund e Cães de Polícia?
Rodrigo Didier : Sim, existe, mas é uma questão de manejo, discriminação e generalização, o que desejamos no animal é muito próximo, o que difere é determinar quais os estímulos e quais filmes vão estar passando na cabeça deles, os ambientes de emprego são diferentes, mas se o cão for bom o que vai diferenciar é o direcionamento. Os instintos são os mesmos!
“Cursos de Adestramento de Cães” : De quais Instintos você fala?
Rodrigo Didier : A primeira coisa que o animal deve ter é o instinto de caça. Fora isso deve possuir um conjunto de fatores: ter posse, luta, vontade de interagir, responder ao stress com auto confiança e equilíbrio dentro da emoção desejada, possuir determinação, dureza, vigor físico, saúde, e ser meio obsessivo por trabalhar. E o que vai fazer ele ser assim é a predisposição genética ou necessidade instintiva, desta forma teremos possibilidade de trabalhar com os reforçadores, sem isso nem dá para começar ou confiar nele como um animal de proteção ou cão de trabalho.
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